Entre as minorias políticas mais impactadas pela crise climática estão as/os agricultoras/es familiares. Segundo dados do IBGE, a agricultura familiar produz 70% dos alimentos no Brasil, sendo responsável por boa parte do feijão, da mandioca, do milho e do café que abastecem o mercado nacional, por exemplo. Por isso, a vulnerabilidade desse grupo está intimamente ligada à segurança alimentar da população. Por outro lado, os seus saberes e práticas de agricultura mais sustentáveis, inspiradas no funcionamento da natureza, apontam caminhos para o enfrentamento dos desafios climáticos.
Na websérie Caminhos de Resiliência: agricultura familiar e clima, produzida pela Tabôa com apoio da Rede Comuá, como parte da programação do Mês da Filantropia que Transforma, são abordadas experiências e soluções climáticas protagonizadas por agricultoras/es familiares que contribuem para a adaptação e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.
A produção audiovisual traz perspectivas de agricultoras/es familiares, especialistas e integrantes da equipe da Tabôa, que atuam apoiando o fortalecimento da agricultura familiar no sul da Bahia.
As lições que vêm do campo
Formada por três episódios, a produção audiovisual reforça o papel da filantropia comunitária e de justiça socioambiental como um caminho para fortalecer autonomias locais por meio do acesso a recursos, que, segundo a FAO, é um dos obstáculos ao desenvolvimento das populações rurais. Ainda, todas as experiências compartilhadas se passam em assentamentos e projetos de assentamento de reforma agrária, para os quais, conforme o Censo GIFE, são direcionados apenas 3% recursos financeiros de investimento social privado no Brasil.
Perguntadas/os sobre como percebem as mudanças do clima no dia a dia, agricultoras/es familiares que participaram da websérie contam sobre safras irregulares, mudança no calendário de floração e colheita, rios mais secos ou períodos de chuva intensa: fatores que influenciam diretamente na produção, na renda das famílias e na biodiversidade.
Essas mesmas famílias agricultoras são guardiãs de práticas de agricultura regenerativa, que contribuem para proteger a sociobiodiversidade, promover sistemas alimentares saudáveis para as pessoas e para o planeta e restaurar áreas degradadas. Todas as experiências compartilhadas contaram com apoio da Tabôa via doação de recursos financeiros e técnicos.
O primeiro episódio da websérie traz O caminho da agroecologia, a partir da experiência da Rede de Agroecologia Povos da Mata. Com cerca de 1.200agricultoras/es certificadas/os, o movimento atua por meio de uma tecnologia social que certifica a produção orgânica, sendo um OPAC - Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade Orgânica. No dia a dia, as práticas são fortalecidas pelo compartilhamento de experiências e saberes entre agricultoras/es, promovendo a produção, beneficiamento e comercialização de produtos alimentares saudáveis. Para além da dimensão produtiva, a Rede atua em diferentes dimensões da sustentabilidade, fazendo da agroecologia um caminho para construir maior justiça socioambiental.
Já o segundo episódio - Viveiro comunitário de mudas e de saberes - traz a experiência do Assentamento Dois Riachões, em Ibirapitanga, Baixo Sul da Bahia. O viveiro foi criado para atender a uma demanda de agricultoras/es da Rede e da região. A estrutura tem capacidade para produzir 30 mil mudas de espécies nativas e frutíferas, de forma agroecológica, apoiando a restauração de áreas degradadas e também o enriquecimento de áreas produtivas. Gerido por mulheres e jovens assentados, o projeto tem o diferencial de fortalecer os saberes e as autonomias desses grupos e suas capacidades de atuação coletiva, que estão entre os mais vulneráveis à crise climática.
O último episódio apresenta o caminho da restauração florestal com inclusão produtiva, com a implantação de Sistemas Agroflorestais - SAFs. Para conferirmos alguns desses aprendizados, a websérie compartilha as experiências de Edson e Givaldo, agricultores que estão implantando SAFs, no Assentamento Serra de Areia, em Ibirapitanga (BA). Com recurso de doação e acompanhamento técnico rural da Tabôa, eles estão recuperando áreas degradadas com o replantio de espécies nativas e também de cultivares agrícolas, promovendo sistemas agroflorestais biodiversos.
Tal prática, além de apoiar a restauração da floresta, também promove segurança alimentar e melhoria de renda para as famílias, com cultivos produtivos de diferentes ciclos, que geram renda durante todo o ano e ainda fortalecem o solo e a biodiversidade.
A websérie está disponível nas redes sociais da Tabôa e no canal do YouTube. Clique AQUI e assista.
Mês da Filantropia que Transforma - Setembro é o Mês da Filantropia que Transforma, um movimento nacional liderado pela Rede Cumá, que reúne fundos temáticos, comunitários e fundações comunitárias, organizações doadoras (grantmakers) independentes, que mobilizam recursos de fontes diversificadas para apoiar grupos, coletivos, movimentos e organizações da sociedade civil que atuam nos campos da justiça socioambiental, direitos humanos e desenvolvimento comunitário.
Em sua segunda edição, em 2024, o Mês teve como foco soluções climáticas locais, criadas por e para as comunidades, considerando as especificidades e vulnerabilidades dos grupos envolvidos e de seus territórios. Como parte da programação, a Rede lançou a nota Comuá pelo Clima, com um mapeamento da atuação de suas organizações-membro. Juntas, elas já financiaram, desenvolveram e/ou cocriaram mais de cem soluções climáticas locais.
Fotos: Acervo Tabôa | Florisval Neto e Tacila Mendes