
O meio hectare que Carlos André restaura fica próximo à casa em que reside com seus avós e irmã, o que contribui para facilitar o manejo diário. “Essa era uma área de pastagem e eu já tinha interesse em fazê-la produtiva. Como é próxima a minha casa, eu queria fazer algo bonito, que fosse visto por todos. Então, conheci o projeto e tive uma oportunidade boa, pois eu podia fazer o que já queria com acompanhamento mais técnico e constante, com todo apoio e acesso a recurso financeiro”, conta o agricultor.
Carlos André é um dos 41 agricultores e agricultoras, grande parte destes assentados de reforma agrária, apoiados pela Tabôa por meio de uma iniciativa que promove ações de restauração ecológica e produtiva em áreas degradadas. No projeto, os participantes têm acesso a crédito facilitado para investir na implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs), com espécies produtivas e nativas, e passam a contar com acompanhamento técnico para fortalecer o manejo sustentável ao longo de três anos.
Ao acessarem os recursos, os participantes se comprometem a seguir alguns protocolos e requisitos ambientais. O processo é continuamente acompanhado e monitorado pela equipe da Tabôa, que, a cada seis meses, realiza avaliação para verificar se as ações previstas no Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) – construído junto com cada agricultor/a - foram implementadas dentro do acordado para o período. Caso tenham sido, é aplicado o instrumento de PSA (Pagamento por Serviços Ambientais) e o agricultor é isento de pagar a parcela do crédito referente àquele semestre.

Na área de Carlos André, a transformação já está brotando na terra. O jovem vem aplicando o manejo orientado pela equipe da Tabôa que o acompanha, e avalia o processo de implementação de seu SAF agroecológico. “Após quatro meses de início de manejo, já fiz mais da metade dessa etapa do projeto. Antes, o solo estava bastante compactado e com braquiária. Aí fiz roçagem manual, cavei, fiz adubação de berço utilizando esterco de galinha, usei calcário e pó de rocha. Já plantei banana, milho, aipim, quiabo e jiló”, conta com entusiasmo.
No SAF desenhado para a área de Carlos André no escopo do projeto, as plantas de ciclo curto amadurecem e produzem já nos primeiros meses, auxiliando na recuperação do solo e na geração de renda. As próximas etapas de cultivo incluem o plantio de ingá e aroeira e, posteriormente, cacau e jussara, que têm ciclo longo. Para escoar a futura produção do que já plantou e ainda irá plantar, Carlos André já planeja a comercialização coletiva, via assentamento, de quiabo e jiló para mercados institucionais, como PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar).
O acompanhamento técnico também o tem apoiado em desafios inerentes ao processo de restauração, como a perda de mudas e o ataque de formigas, para os quais, respectivamente, foi orientado a curtir o esterco de galinha pelo período de tempo correto e a usar técnicas agroecológicas para controle de formigueiro, que buscam manter o equilíbrio no solo. “Com o acompanhamento técnico, aprendi também a fazer o cronograma, a ver quando e o que devo plantar a depender da época e das condições do clima”, comenta Carlos.

A jornada de restauração de Carlos André está apenas começando, mas ele já projeta os frutos – individuais e coletivos – que espera colher com o sonho que está cultivando em sua terra. "Minha área daqui a dois anos, quero que esteja totalmente diversificada. Cheia de alimento, cheia de árvores altas, robustas, com uma diversificação de alimentos de ciclo longo e ciclo curto. É algo que eu estou fazendo para melhorar o assentamento e algo para mim mesmo, para que eu possa ter uma rentabilidade boa como jovem, e também para a minha família. Minha área, há quatro meses, era pastagem, hoje é totalmente diferente do que era. O solo já está mais vivo, já se encontra mais minhoca. O manejo está sendo mais adaptado para a nossa cultura e já está nascendo tudo."
Fotos: Acervo Tabôa | Florisval Neto
Fotos: Acervo Tabôa | Florisval Neto